O Silêncio dos Inocentes
Ao fazer o checkout do hotel, o recepcionista perguntou:
- O Sr. consumiu algo do frigobar?
- Sim, uma água mineral - minha resposta.
Ele pega o telefone, pede para verificar o quarto 314. Para
evitar olhar nos meus olhos durante os minutos que seguem, de puro desconforto,
arruma alguns papéis no balcão, fala com outro recepcionista.
O telefone toca.
- Apenas uma água mineral então? Obrigado – confirma com a
pessoa no outro lado da linha.
Fecha minha conta, pago e sigo a vida.
Ao me confrontar com aquela verificação, para ter certeza do
que eu disse, o recepcionista, colocou em jogo minha honestidade, ética e
caráter e o fez sem qualquer cerimônia.
Por que isso? Certamente em algum momento passado, em
uma situação igual, perguntado sobre seu consumo, o hóspede deve ter dito “nada”,
mas mais tarde se descobriu que havia esvaziado o frigobar, roubado as toalhas e
fronhas de travesseiros.
Todos pagam pela falta de honestidade, caráter e ética de poucos.
Vamos olhar à nossa volta.
O WiFi da sua empresa é liberado para todos os funcionários?
Se não é, você sabe o motivo? É permitido à você fazer home office?
Quando alguém age de forma “honesta”, essa pessoa é notícia na sua Cidade, Estado,
País?
De modo geral, as pessoas que você conhece sabem que o Governo
não tem dinheiro algum, apenas administra o NOSSO dinheiro, Tesouro Nacional,
que é formado dos impostos e taxas que pagamos ao comprar produtos, usar
serviços (particulares e públicos)?
O horário de trabalho do Congresso Nacional, do Judiciário como um todo em Brasília?
Que a semana de trabalho deles é de apenas três dias semanais, desde que não existe um feriado, então a semana inteira é emendada como "folga"?
São perguntas genéricas, mas têm um fundo em comum: como o
ser humano trata o que não lhe pertence e como despreza o que é seu por
direito.
Não nos atrevemos a votar em administradores, conhecedores
reais das leis, em pessoas que tenham currículo ilibado. Continuamos a escolher,
como vereador, o Zé do Suco, como Prefeito, a Ivete da Caatinga, como
Governador, o Beto Richa (não vou poupar esse), como presidente, Dilma Rousseff.
Queremos melhorar o país com pessoas sem cultura, ex-criminosos,
acusados de corrupção, ex-terroristas. Fazemos a mesma coisa a cada eleição buscando
resultado diferente.
Muitos falam do “Complexo de Vira-Latas” que o brasileiro
tem. Acredito que somos o próprio vira-latas. Somos surrados, nos deixam sem
água ou comida, mas basta um afago e voltamos a balançar nossas caudas
amigavelmente.
Os Três Poderes no decorrer dos últimos 12 meses conseguiram
chegar ao fundo do poço na falta de interesse da causa pública. O Presidente
comprou sua “inocência”, pagando com verbas deputados e senadores. O Supremo
Tribunal Federal tornou-se uma casa de horrores e egos inflados, onde seus
ministros falam do Direito Americano, Francês, Inglês, mas preferem usar o bom
toma lá dá cá brasileiro em suas sentenças.
E o que sobra? Nada.
Costumava escrever sobre esse ou aquele fato nas redes
sociais. Com os níveis de ignorância tão altos e a compreensão de texto tão
baixos, sobrou o ódio e o silêncio.
É incrível o barulho que as pessoas fazem sem saber
exatamente o que está acontecendo, sem ver o contexto, os interesses que se
encontram por trás das “boas ações” – por exemplo a Intervenção do Rio de
Janeiro, feita sem qualquer planejamento ou mesmo dinheiro para sustenta-la. É
necessária, mas qual é o plano? Quais são os estágios? Não existem metas? Mais
uma jogada populista.
Em tempos sombrios as pessoas querem ouvir apenas o que
gostam, mas saindo de nossas bocas, caso contrário podem e irão fazer algo para
nos prejudicar.
Autofagia, uma singularidade do povo brasileiro.
Aprendi a duras penas que devo dividir minha vida com pouquíssimas
pessoas: minha história, opinião, onde gasto meu dinheiro, em quem vou votar,
se vou viajar ou para onde, qual é o meu carro, etc. Os amigos não se importam
ou já sabem. E por que curiosos gostariam de saber essas coisas?
Caso contrário posso estar ofendendo alguém. A tal coisa da
adversidade: gays, negros e outras minorias podem se manifestar o quanto
quiserem, entretanto, o contrário não é verdade.
Um lado quer liberdade e libertinagem. O outro lado quer
seguir com a sua vida, mas tem que fazer silêncio sobre tudo, sob pena de ser
chamado de “fascista”. Não podem ser conservadores em seus valores familiares.
Lhes é vedado esse direito.
Silêncio e desapego. Segredos da paz.
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