Sem Momento de Fama


A história é feita de grandes fatos, realizados por pessoas ou grupos de pessoas.

Alexandre, O Grande, que em seu tempo conquistou todo o mundo conhecido. As grandes pirâmides, construídas em Gizé, cada uma com o nome de seus faraós. Grandes obras de arte e seus criadores: Michelangelo, Rafael, Leonardo Da Vinci entre outros.

Os grandes navegadores, Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Cabral. Estrategistas como Aníbal, Napoleão, Almirante Nelson.

História Clássica.

Fico imaginando as pessoas que foram contemporâneas desses grandes nomes. 

Aqueles que estavam lá, mas ficarão anônimos para sempre. O padeiro, quem lavava as roupas, limpava latrinas ou esvaziava os penicos. Pessoas que trabalhavam nos estábulos, ferreiros, carpinteiros, pedreiros. Tecelões.

Não há registro de quem eram essas pessoas, que não sabiam estarem participando de um momento que marcaria a humanidade para sempre e apenas faziam suas funções diárias.

É estranha a ligação entre o sujeito que esvaziava os penicos e o grande general: os dois tinham grande importância, mesmo que um vestia-se de reluzente farda e outro de trapos e cheirasse mal. 

Exemplo? Desligue a água da sua casa por três dias, fique sem dar descarga no banheiro durante esse tempo. Pronto! Sua casa, sem que alguém “esvazie os penicos” se transformou em um lugar inabitável.

Mas não estou escrevendo sobre banheiros sujos, mas sim sobre viver na mesma época em que pessoas que causaram grandes eventos viveram e aconteceram.

Considerando que eu nasci em 1963, no mesmo ano que o Presidente Kennedy foi assassinado em Dallas, posso dizer que presenciei grandes mudanças no Brasil e no resto do mundo.

Na primeira transmissão via satélite, ao vivo para o mundo todo, Neil Armstrong pisou na Lua em 1969 e eu estava assistindo.

Vivi durante o Regime Militar e até hoje não encontrei uma pessoa sequer – parente, amigo, amigo de amigo – que tenha sido torturado ou tenha perdido alguém para os militares malignos. Provavelmente eu andava com a turma certa, ou errada, depende do ponto de vista. Gostaria de adicionar: meu pai, nessa época, tinha 3 espingardas e um revólver em casa, que ele limpava uma vez por mês na varanda de casa, na frente dos vizinhos. Morávamos em São Paulo – anos 70 – e quando acontecia um assassinato repercutia por semanas.

Assisti a primeira estação espacial, Skylab, ser utilizada e também desmanchar-se na sua reentrada na atmosfera.

Passei pelo medo de uma guerra nuclear que o mundo todo passou em virtude da Guerra Fria.

Me emocionei com as “Diretas Já”. Com a derrubada do Muro de Berlim. Com o fim do Comunismo na Polônia. Torci pela Argentina durante a Guerra das Malvinas, mesmo sabendo que o poderio da Inglaterra era muito maior.

Quando aconteceram os acidentes com os ônibus espaciais, no lançamento e no retorno, matando os astronautas, me senti como os americanos, assim como em 11/09/2001, quando terroristas atacaram com aviões diversos alvos nos Estados Unidos, em especial o World Trade Center. As consequências, para o mundo como um todo, foram terríveis.

Grandes gênios vivem ou viveram nesse tempo: Stephen Hawking, o homem que viu o infinito, Carl Sagan, Steve Jobs e Bill Gates, que mudaram a maneira como nos conectamos uns aos outros e tornaram o computador em um utensílio doméstico. Elon Musk, um gênio, que está transformando a maneira como iremos para o espaço, dirigiremos nossos carros, obteremos energia limpa.

Ainda nos Estados Unidos, a mudança entre os negros terem direito ao voto até a eleição de Barak Obama.

Grandes fatos.

Entretanto, nesse tempo, também presenciei a degradação da moral. Ser velho deixou de ser motivo de ser respeitado para tornar-se termo pejorativo. Uma espécie de peso morto. Uma fase da vida que os mais jovens pensam que não lhes cabe. O tempo trás surpresas para quem só vive o momento sem pensar como será o futuro. 

A mesma Internet que abriu fronteiras também abriu campo para a fraude. A mesma liberdade que foi ampliada para a população deu lugar para a libertinagem: rouba-se, corrompe-se porque existe impunidade explícita, ao menos no Brasil. Paradas Gays se multiplicam pelo país, com o título de “orgulho”, pedindo respeito, enquanto seus integrantes desfilam fazendo atos obscenos, assim como obscenas são suas roupas.

Em pleno século 21, nossa taxa de analfabetos cresceu. Temos mais acesso a informação, mais métodos de aprendizagem, mas em vez de termos pessoas esclarecidas temos fãs clubes partidários, seja de esquerda ou de direita. 

Mesmo aqueles que tiveram alguma educação não conseguem fazer uma simples interpretação de texto. Conseguem ler apenas aquilo que interessa ao seu viés político.

32 anos após o fim do Regime Militar, acompanhei dois processos de Impeachment, 3 mudanças de moeda, diversos planos econômicos, corrupção de todos os governos “democráticos”.

O país saiu da super inflação para a normalidade, e então, a sanha de bandidos de paletó, colocou 14 milhões de pessoas para procurarem um emprego. Carga tributária de quase 50% e serviços públicos iguais ao da Etiópia.

E então, diferente dos desaparecidos do Regime Militar, não existe praticamente ninguém que não esteja ele próprio, um familiar, um amigo ou um amigo do amigo desempregado.

Tantos fatos, tantas pessoas importantes.

Pela minha total falta de importância, eu “não” serei lembrado por ter sido contemporâneo de tantos fatos ou de tantos atos de corrupção ou de tantos corruptos, sejam eles do Executivo, do Legislativo e principalmente do Judiciário, com ênfase ao Supremo Tribunal Federal.

Os últimos 30 anos estarão nos livros de história do futuro como o período das trevas do Brasil.

Qualquer nome neste período será motivo apenas de vergonha, até mesmo eu, que só estou aqui para esvaziar os penicos.  

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