Eco Infinito
Costumo dizer que não existem máquinas do tempo. Repeti isso
diversas vezes na vida.
Como uma mentira contada muitas vezes, comecei a acreditar
nisso: que não seria poder retornar ao passado. Ledo engano.
Imagine um looping infinito com o seguinte cenário: você está
caminhando por uma floresta, em um caminho entre as árvores, de repente,
tropeça em uma raiz e cai. Machuca-se, suja-se, mas levanta e continua a
caminhar. Depois de algum tempo, tropeça novamente, mas a dor é dobrada, porque
além dessa nova queda, é acrescentada a dor da primeira queda. A caminhada
continua, vem a terceira queda, a dor que existia da primeira vez que você caiu
é menor, mas da segunda é ainda contundente. E assim o passeio continua, em um
cai e levanta.
Trazendo para o mundo real essa analogia pode ser usada na
forma de um eco do passado que nos acompanha continuamente. Um ruído que não cessa.
A parte da caminhada são aquelas coisas que corretamente
fazemos, contra as quedas – nossos erros, coisas que voluntariamente ou
involuntariamente acontecem e causam desconforto em pessoas que convivemos – as
máquinas do tempo.
Continuamos a caminhar e um dia qualquer, uma máquina do
tempo dessas retorna com a lembrança de uma queda passada, nos fazendo sentir a
dor, a humilhação. Temos que limpar a sujeira novamente – pensávamos que já tínhamos
feito isso, mas não. O processo precisa ser repetido.
É um zumbido no ouvido. Por vezes pensamos que ele parou,
mas então, subitamente, ele retorna.
Estranho que gente, com sentimentos, buscando empatia
sobre seus problemas, não possuam nenhuma sobre os problemas dos outros. Que
tenhamos que pagar, nunca sabemos quando, por um débito do passado. Nunca nos
vemos livres, ou pelo menos não ficamos até que nos afastamos dessas “máquinas
do tempo” e criemos relacionamentos novos.
Por que a resposta é sempre desapegar?
Por que a resposta é sempre desapegar?
Então, o “histórico” vai realmente ser a história que será
contada pelas nossas costas, mas não irá nos afetar no nosso dia a dia, seja
pessoal ou profissionalmente.
Fico me perguntando: tratadas com essa “gentileza”, esses
contadores de histórias se sentiriam felizes?
Depois de conhecer tantas conexões só tenho uma certeza:
pessoas que falam sobre pessoas e não sobre ideias tem vidas limitadas ao que
outros experimentam. Precisam ser assim para se manterem abastecidos de
informação para manter seus bancos de dados em dia, para em uma conversa
informal, a qualquer hora do dia, ser novamente o eco, o looping, o zumbido que
irá recorrentemente e propositalmente ferir os sentimentos de alguém.
Existe uma linha tênue entre a franqueza e a crueldade que
poucos entendem que não devem cruzar. Tristemente, muitos sabem dessa linha e
gostam de pular, de um lado para o outro como forma de esporte.
Não seja você uma máquina do tempo. Perdoe.
Esqueça.
Esqueça.
Respeite
que seres humanos são diferentes uns dos outros e possuem necessidades
diferentes.
Que pela nossa unicidade, caminhamos em diferentes rotas e durante
o tempo que dividirmos nosso tempo, deve ser um tempo de qualidade, algo que no
futuro, sem que ninguém precise recapitular, nos lembremos e possamos sorrir.
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